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Notícias
Ele mora na filosofia

Revista GOL

01/07/2024

 

IDEALIZADOR DA CASA DO SABER, JAIR RIBEIRO UTILIZA SEU ESPÍRITO EMPREENDEDOR PARA FAZER COM QUE CULTURA E EDUCAÇÃO ESTEJAM AO ALCANCE DE TODOS


Não deve haver muitos empresários no Brasil que são fãs de Spinoza, citam Jung com desenvoltura e viajam à Índia para visitar gurus. Um deles, com certeza, é Jair Ribeiro. Aos 48 anos, atualmente CEO da CPM Braxis uma das maiores empresas de serviços de tecnologia do país, Ribeiro é uma máquina de empreendedorismo: mesmo quando quis parar e fazer um período sabático, ou seja, teoricamente entrou em férias, criou uma ONG de educação e um centro de cultura que aglutina boa parte do PIB brasileiro em aulas de psicanálise, leitura, história e, claro, filosofia: a Casa do Saber, que já caminha para a terceira unidade e estuda divulgar ainda mais seus cursos com uma linha de audiobooks e dvds a ser criada ainda este ano.

O gosto por criar negóciosveio desde o começo da carreira, no escritório de advocacia Pinheiro Neto, onde passou sete anos, no setor de fusões e aquisições. Nesse período Ribeiro que também é economista de formação, fez mestrado em direito em Berkeley. “Como advogado, eu sempre participava do fim das negociações regulamentando e fechando os contratos. E queria participar mais do processo como um todo". conta. Em 1988, surgiu a oportunidade de liderar a criação de um banco de investimentos, Patrimônio, que foi o primeiro a lançar ações de empresas brasileiras no mercado Internacional e cuidou da privatização da Telebrás. Após série de fusões de seu banco com instituições estrangeiras, acabou em Nova York, na diretoria do banco JP Morgan. O que era para ser apenas uma transição de seis meses se estendeu por dois anos, e, em 2003, resolveu voltar ao Brasil e tirar um período sabático. A idéia era ficar mais perto dos filhos e ter atividades diferentes.


PERÍODO DE TRANSIÇÃO


"Jung diz que todo mundo passa por um processo de individuação perto dos 40 anos, então achei que era uma época boa para parar e me conhecer um pouco melhor, analisar meu rumo. Sempre quis estudar mais humanidades, mas o trabalho me exigia tanto que não tinha tempo", diz. Daí, surgiu a idéia de fazer encontros em casa, com amigos, para discutir filosofia, analisar filmes e peças de teatro (um exemplo foi As Nuvens, do grego Aristófanes), mediados por professores universitários e sempre regados a bons vinhos. Nascia o embrião da Casa do Saber.


"Muita gente me ligava, querendo ser convidada para os encontros, a casa começou a encher”, fala, sorrindo "E eu percebi que havia um interesse generalizado." E, claro, mais uma oportunidade de negócios, ainda que dessa vez esse "business" tivesse um foco diferente: um centro de cursos livres e palestras sobre cultura, mas com rigor acadêmico, dados por especialistas renomados em suas áreas. “A Casa do Saber nasceu com uma carta de princípios, e o principal deles é que é uma obrigação de todos conhecer toda a riqueza cultural produzida pela humanidade. É nisso que acreditamos." Jair convidou amigos como a atriz Maria Fernanda Cândido, o publicitário Celso Loducca, o advogado Pierre Moreau, entre outros, para se associar a empreitada, e o grupo contratou o jornalista Mario Vitor Santos para dirigir a nascente Casa. “A presença do Mario foi fundamental, ele comprou o projeto desde o início",faz questão de reiterar. Em 2004, a Casa do Saber foi inaugurada, com cursos em sua maioria no período noturno, custando em média R$ 80 por aula, com temas que variam de Shakespeare a física quântica, passando por política e economia. "Bolamos os cursos, Mario Vitor e eu, em cima do que nós queríamos aprender", ri. Para honrar a tradição iniciada por Ribeiro, servido vinho a cada aula.


Quatro anos depois, a fórmula cursos livres + vinho + professores universitários + alunos endinheirados de Casa do Saber é um sucesso, com duas unidades em São Paulo, nas bairros do Itaim e de Higienópolis, e uma no Rio de Janeiro, na Lagoa. por onde já passaram mais de 27 mil pessoas, em 910 cursos. Até o fim do ano será inaugurada mais uma unidade paulistana, no novíssimo shopping Cidade Jardim. Isso não quer dizer que a Casa do Saber vai se multiplicar como cogumelos em varias cidades do Brasil. Ribeiro confessa que chegou a pensar numa franquia ("Fizemos um estudo que mostrou haver espaço para outras 35 unidades no Brasil") e não passa um mês sem que eles recebam um convite de interessados. mas a idéia foi posta de lado. "Embora a Casa opere no azul desde o primeiro mês, ela não tem por objetivo dar dinheiro. Não pode ter parte chata, não queremos que vire um business de verdade. A Casa do Saber só pode dar alegria para os sócios. E, se corremos o risco de perder qualidade, não vamos expandir." Mas, se os planos de expansão forem suspensos, outras formas de democratizar o conhecimento da Casa estão sendo estudadas: entre elas, a criação de uma linha de audiobooks e DVDs com as palestras e cursos ministrados.


PARCEIROS NAS ESCOLAS


Mas a Casa do Saber não foi a única manifestação do inquieto espírito empreendedor de Jair Ribeiro durante seu período sabático. Outro produto foi a ONG Parceiros da Educação, que tem como objetivo a adoção de escolas públicas por empresários, como forma de melhorar a qualidade do ensino. O projeto já adotou 65 escolas do Estado de São Paulo, atendendo cerca de 80 mil crianças e jovens. A meta é chegar a 100 escolas até o fim de 2008 e 500 até 2010.


"O trabalho esta focado em quatro pilares: infraestrutura, gestão, parte pedagógica e inserção da comunidade na escola. Cada escola tem necessidades especificas, é necessário respeitar isso sempre." Pelo entusiasmo ao descrever o trabalho de Parceiros, percebe-se que Ribeiro considera esse projeto tão importante quanto a Casa do Saber. "A ONG se trata de uma obrigação minha, que é devolver algo para a comunidade. Como considero que o maior problema do Brasil é a educação, quero investir nisso. Já a Casa é um hobby, por assim dizer. Com ela eu ajudo as pessoas a terem uma vida mais completa, a maximizar seu potencial."

 

DE VOLTA AO VIL METAL


No caso de Jair Ribeiro, ficou claro que o mundo dos negócios ia chamá-lo de volta. E assim aconteceu, ainda que de uma maneira inusitada, há três anos. Aos 45 anos, "eu achava que ainda precisava passar por mais um ciclo empresarial, voltar a esse mundo". Ribeiro já era sócio de uma empresa de comércio exterior, a Sertrading, e resolveu fazer uma viagem a Índia. O que era para ser uma pesquisa intelectual sobre filosofia hindu, visitas a gurus inclusive, foi a faísca para outra idéia. "Eu conheci o mercado indiano de empresas offshore de serviços de informática, que crescia 40% ao ano, e disse vamos desenvolver uma empresa dessas no Brasil”.


Em 2006 nascia a CPM Braxis, que em dois anos já é a maior empresa de serviços de tecnologia de informação, com 5400 funcionários, 200 clientes e 14 centros de desenvolvimento de software no país. Faturou nada menos que R$ 1 bilhão no ano passado, já passou por três fusões e tem sócios como o banco Bradesco e a administradora de fundos Gávea Investimentos.

 

A CPM Braxis toma 120% do seu tempo, e até o abrigou a um afastamento do dia-a-dia da Casa do Saber e da Parceiros da Educação. Mas, nas horas vagas, Jair gosta de descansar no seu sítio na região de Tatuí, interior de São Paulo, sair com seus amigos e, quando dá, correr esteira ou fazer jogging. Ainda lê bastante e cita Spinoza como seu filosofo favorito "Ele questiona uma porção de dogmas da cultura judaico-cristã, e acho muito interessantes suas definições de Deus e sua ética". Enquanto discorre sobre o judeu holandês que viveu no século XVII, fica com o olhar longe, como se alguma ótima idéia tivesse acabado de lhe ocorrer. Jair Ribeiro não pára.

 

 
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